O Músico ao longo da História
As relações entre músicos e sociedade através do tempo
As relações entre músicos e sociedade através do tempo
Use a LUPA para encurtar distâncias na linha do tempo.
A profissão de músico é uma profissão híbrida, de qualidades ambivalentes e difícil de se classificar. Ela se faz na prática diária no instrumento, na busca pela técnica, nas negociações de trabalho, no autodidatismo, no transporte e na montagem do próprio equipamento, na inserção em uma indústria milionária de entretenimento, no aprendizado sobre aparelhos eletrônicos e sofware complexos, no trabalho intelectual da composição, na articulacão entre os pares, na capacidade de improvisação, na postura artística perante a platéia.
O músico se movimenta entre dois mundos, criando e interpretando, como artista, e ao mesmo tempo vendendo sua força de trabalho no mercado, como trabalhador.
(SIMÕES, 2011, p. 17)
Em uma sociedade global de “prosumidores”, o conceito de amador torna-se confuso, com milhões de consumidores produzindo e disseminando seus próprios conteúdos de texto, música e vídeo na rede – como podemos definir o que faz de alguém um músico, artista ou profissional? O que o diferencia de um amador? “O diploma universitário? O pagamento recebido ao final de uma apresentação? A maestria num instrumento? A auto-definição? Basta declarar-se músico? E qual a diferença entre um pandeirista de fim-de-semana, um saxofonista que toca em casamentos, um violinista de orquestra e um flautista de choro? Seria o tempo dedicado à atividade que faria o profissional? E os músicos que desempenham atividades anexas, extras?” (SIMÕES, 2011, p. 26)
é a resposta.
na era digital, fase de transição.
Ao longo da História, o músico já teve papéis muito diferentes, como parte das estruturas sócio-econômicas em que viviam, sempre costurando significados do zeitgeist[1] nas camadas da sociedade. Em tempos ancestrais e sociedades tribais era o músico-ritualista, responsável pela comunicação dos homens com os deuses, como xamãs e curandeiros. Mais tarde, em sociedades medievais pré-capitalistas, o músico poderia ser visto como o músico-artesão, dedicado à seu ofício de tocar um instrumento, artesanal às vezes ao ponto da maestria, cantando histórias em festas populares como menestréis misturados a artistas da commedia dell’arte e vagando entre aldeias e burgos, ora entre reis, ora entre vagabundos. (ATTALI, 1985). Da renascença em diante, consolida-se como profissional compositor ou virtuose, um músico-artista capaz de receber encomendas, cujos dotes destacam-se de outros. Como Mozart entre clássicos, Beethoven entre românticos, a personalidade do músico-artista desponta como fama, até chegar aos astros do star-system como conhecemos, que surgiria no século 20.
[1] zeitgeist é uma palavra alemã que significa “espírito do tempo” ou “sinal dos tempos”, algo como a síntese de uma época. O conceito ficou melhor conhecido pela obra “Filosofia da História”, de Hegel, que defendia a ideia de que a arte, por natureza, reflete a cultura de sua época.
Hoje, para uma sociedade de consumidores dentro economia capitalista neo-liberal, apelidada como “capitalismo artista” (LIPOVETSKY; SERROY) e permeada pela tecnologia digital, emerge o papel do músico-empreendedor. Se é fato que a música tornou-se uma mercadoria – um produto cultural de entretenimento – parece ser essa a forma adaptável do músico para sobreviver profissionalmente neste mercado.
“Eis-nos no estágio estratégico e mercantil da estetização do mundo. Depois da arte-para-os-deuses, da arte-para-os-príncipes e da arte-pela-arte, triunfa agora a arte-para-o-mercado”. (LIPOVETSKY; SERROY, 2015)
Em tempos ancestrais e sociedades tribais era o músico-ritualista, responsável pela comunicação dos homens com os deuses, como xamãs e curandeiros.
Em sociedades medievais pré-capitalistas, o músico poderia ser visto como o músico-artesão, dedicado à seu ofício de tocar um instrumento, na abordagem de maestria artesanal, cantando histórias em festas populares como menestréis misturados a artistas da commedia dell’arte e vagando entre aldeias e burgos, ora entre reis, ora entre vagabundos. (ATTALI, 1985).
Da renascença em diante, consolida-se como profissional compositor ou virtuose, um músico-artista capaz de receber encomendas, cujos dotes destacam-se de outros. Como Mozart entre clássicos e Beethoven entre românticos, a personalidade do músico-artista desponta como fama, até chegar aos astros do star-system como conhecemos, que surgiria no século 20.
Hoje, para uma sociedade de consumidores dentro economia capitalista neo-liberal e permeada pela tecnologia digital, emerge o papel do músico-empreendedor. Se ocorre uma mercantilização da música – que de bem cultural, torna-se um produto cultural de entretenimento – parece ser essa a forma adaptável do músico independente para sobreviver profissionalmente neste mercado. Seu maior desafio hoje, como músico-empreendedor, é ir muito além das capacitações específicas da formação musical – o conhecimento de teoria musical e harmonia, somado à milhares de horas de estudos técnicos no seu instrumento e o investimento financeiro em equipamentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATTALI, Jacques. Ruidos: ensayo sobre la economía política de la música. 1977. Mexico – Siglo Veintiuno Editores, s.a. de c.v., 1995
SIMÕES, Júlia da Rosa. Ser Músico e Viver de Música no Brasil. Um estudo da trajetória do centro musical porto-alegrense (1920-1933). – Dissertação de pós graduação em História – FFCH-PUC-RG. Porto Alegre, 2011.
LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A Estetização do Mundo: Viver na Era do Capitalismo Artista. tradução Eduardo Brandão. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2015